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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Parte do meu artigo: Avaliação da Aprendizagem

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: CONCEITOS E FUNÇÕES

Na literatura educacional é possível encontrar muitos conceitos referentes à avaliação que vão variar conforme a concepção política e pedagógica de cada autor. Nesse sentido, refletir sobre o que é avaliação, seus instrumentos e suas funções é um processo complexo e deve ser feito por todo educador independente do nível e da modalidade educacional em que atue.
A avaliação assim como a própria educação é resultado das influências externas e do contexto em que se situa. Lima (1994) afirma que as avaliações na América Latina são reproduções das práticas desenvolvidas nos Estados Unidos e na Europa. Ele defende que a avaliação então está em concordância com as especificidades de cada cultura.

A educação é um fenômeno cultural. É um produto de determinada cultura, isto é, da interação dialética entre homens concretos, perante situações concretas. A avaliação, a ação avaliativa, mais do que a educação, é de um significado cultural profundo: é elo entre a educação e a cultura, já que se refere – necessariamente –  aos valores (axiologia) de uma cultura e à maneira como esses valores são aceitos. (LIMA, 1994, p. 93).


A avaliação escolar analisada sob o ponto de vista histórico brasileiro representa o que se entendia por educação e como esta se concretizou em cada fase do desenvolvimento cultural. Assim, durante o período Colonial, Imperial e início da República em que prevaleceu os valores da Igreja Católica na educação, principalmente a tradição dos jesuítas principais educadores da época, a avaliação se resumia à aplicação de testes e exames para qualificar e classificar o aluno em fraco, regular ou bom a partir da atribuição de notas e até premiações.
Apesar da existência de outras concepções, é muito comum encontrar ainda no contexto atual quem defenda esse conceito tradicional de educação e de avaliação, que valoriza a memorização e a repetição.
A partir das primeiras décadas do século XX o movimento da Escola Nova começa a influenciar o meio educacional evidenciando “a importância da participação da criança, do questionamento, da pesquisa, da experiência individual, valorizando a liberdade no ato de ensinar-aprender e a ideia de ‘aprender-fazendo’.” (BERGER, 2011, p. 35).
Nessa nova concepção de educação surge a necessidade de contemplar na avaliação o interesse, a assiduidade e a participação do aluno, propondo técnicas de avaliação como a auto-avaliação e a observação.
A partir dos anos de 1960 e no período militar a influência norte-americana vai difundir no ensino a concepção tecnicista de educação que defende a racionalização do trabalho pedagógico e o uso de testes objetivos na educação. “Os testes objetivos eram valorizados por favorecer a ‘avaliação’ do aluno de forma econômica e rápida, evitando a subjetividade do professor nos resultados”. (BERGER, 2011, p. 36).
Em meados dos anos de 1980 a abertura política e a influência da pedagogia progressista consolidada na concepção pedagógica de Paulo Freire e Dermeval Saviani vão modificar o papel da educação que passa a ser um elemento “capaz de gerar o novo, a educação também contribui para a formação de um indivíduo crítico e transformador da sociedade” (BERGER, 2011, p. 38). Nesse contexto a avaliação passa a diversificar seus instrumentos destacando o “portfólio, o diário, a prova contextualizada, os trabalhos de pesquisa e a participação em debates, onde os alunos expõem suas ideias, ouve as dos colegas e vai processando as informações, reelaborando o conhecimento” (p. 39).
Esta nova postura do educador frente à avaliação vai ser consolidada com a promulgação da LDB, Lei 9394/96 onde é definida a avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, devendo enfatizar os aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do processo e não apenas o uso de provas finais.
Essa abordagem também pode ser encontrada nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que também valorizam a avaliação contínua na perspectiva de acompanhamento e orientação do aluno.
Nesse sentido Berger (2011, p. 40) apresenta algumas características da avaliação:
·             Uma ação consensual e coletiva envolvendo aluno, professor e direção;
·             Função diagnóstica, pois se preocupa em analisar os avanços e as dificuldades do aluno em busca de estratégias de orientação visando seu progresso;
·             Privilégio à compreensão;
·             Decisão compartilhada entre professor e aluno;
·             Concepção diferente do erro resultante de uma resposta inadequada do aluno constituindo um indicativo da necessidade de novas orientações.
Assim, quando se fala em avaliação do processo ensino e aprendizagem é imprescindível relacioná-la à verificação da aprendizagem do aluno, mesmo sabendo que outros elementos didáticos estão envolvidos no processo.
Refletindo sobre as funções da avaliação Regina Cazaux Haydt (2008), apresenta três modalidades: avaliação diagnóstica, avaliação formativa e avaliação somativa.

A avaliação diagnóstica é aquela realizada no início de um curso, período letivo ou unidade de ensino, com a intenção de constatar se os alunos apresentam ou não o domínio dos pré-requisitos necessários, isto é, se possuem os conhecimentos e habilidades imprescindíveis para as novas aprendizagens. É também utilizada para caracterizar eventuais problemas de aprendizagem e identificar suas possíveis causas, numa tentativa de saná-los. (HAYDT, 2008, p. 16-17).


Nessa função a avaliação assume um papel de levantar informações a respeito dos conhecimentos prévios dos alunos na tentativa de adequar o trabalho docente às reais condições e interesses dos alunos. É possível verificar também se eles estão preparados ou não para adquirir novos conhecimentos e identificar as dificuldades que poderão impedir a aprendizagem do que será ensinado ou elaborado.
Libâneo (2006), ao refletir sobre a função diagnóstica da avaliação defende que ela “permite identificar progressos e dificuldades dos alunos e a atuação do professor que, por sua vez, determinam modificações do processo de ensino para melhor cumprir as exigências dos objetivos.” (p. 197).

A avaliação formativa, com função de controle, é realizada durante todo o decorrer do período letivo, com o intuito de verificar se os alunos estão atingindo os objetivos previstos, isto é, quais os resultados alcançados durante o desenvolvimento das atividades. (HAYDT, 2008, p. 17).

Nesse sentido a avaliação formativa visa verificar se os objetivos propostos para a aprendizagem foram atingidos, para que os alunos possam seguir adiante, ou seja, passar tranquilamente para a próxima etapa da aprendizagem.  Sendo assim, nesta fase o aluno reconhece seus erros e acertos, orientando assim o trabalho do professor e os novos estudos, assumindo assim uma função estimuladora do processo de aprendizagem. “A avaliação formativa está ligada ao mecanismo de feedback, à medida que também permite ao professor detectar e identificar deficiências na forma de ensinar” (p.17) e de aprender. Sendo assim, segundo Bloom citado por Haydt (2008, p. 18) “a avaliação pode servir como meio de controle de qualidade, para assegurar que cada ciclo novo de ensino-aprendizagem alcance resultados tão bons ou melhores que os anteriores”.

A avaliação somativa, com função classificatória, realiza-se ao final de um curso, período letivo ou unidade de ensino, e consiste em classificar os alunos de acordo com níveis de aproveitamento previamente estabelecidos, geralmente tendo em vista sua promoção de uma série para outra, ou de um grau para outro”. (HAYDT, 2008, p. 18).


Nessa função avaliativa o aluno vai ser promovido de acordo com o seu aproveitamento ou nível de aprendizagem alcançado em seus estudos. Ela visa atribuir uma nota ou conceito ao final de um processo para fins de promoção, podendo também gerar o fracasso quando o aluno não atinge a média estabelecida. Essa concepção está relacionada à concepção tradicional de avaliação, pois valoriza apenas o resultado final deixando de lado o processo e as possibilidades de intervenções para corrigir as dificuldades e falhas da aprendizagem do aluno.
Um outro educador que reflete as questões da avaliação é Cipriano Carlos Luckesi. Pra ele a avaliação é vista “como um juízo de qualidade sobre dados relevantes, tendo em vista uma tomada de decisão.” (2006, p. 69). 
Em relação ao juízo de qualidade ele o define como julgamento que o professor faz sobre o comportamento do aluno a partir de um padrão ideal estabelecido anteriormente, e ao comparar esse resultado irá atribuir-lhe uma qualidade de satisfatoriedade ou insatisfatoriedade.
Em se tratando dos dados relevantes, Luckesi (2006) esclarece que se referem às condutas manifestadas pelos alunos que devem ser comparadas com o padrão ideal, ou seja, com as expectativas que se tem a alcançar.
E por fim, no tocante à tomada de decisão está relacionada ao que fazer com o aluno quando a sua aprendizagem se manifesta de forma satisfatória ou não. Esse é o principal ponto desse processo, pois se a decisão se pautar numa postura classificatória, o professor irá reprovar todos os alunos que não atingiram os objetivos propostos. Sendo assim, essa decisão contribui para tornar a escola antidemocrática e excludente. Por outro lado, sua decisão pode estar a favor do aluno, isto é, a partir do diagnóstico negativo da aprendizagem o educador criará condições para que o aluno saia do estágio defasado e possa avançar em termos dos conhecimentos necessários e exigidos no processo em questão.
Dessa forma, defende-se que a tomada de decisão do educador leve em consideração a possibilidade de corrigir as falhas durante o processo e não apenas realize um julgamento no final de cada etapa.                        
Essa nova postura frente à avaliação faz com este elemento do processo pedagógico deixe de ser um instrumento de classificação, seleção e exclusão social e se torne uma ferramenta que visa favorecer a inclusão e a construção coletiva de uma educação de qualidade para todos, independente da modalidade de ensino.
Na educação a distância professores e alunos passam a usufruir de diversas possibilidades de aprendizagem, quando os meios eletrônicos de comunicação intermediam o processo de ensino e de aprendizagem de forma colaborativa, utilizando-se de ferramentas como: e-mail, www, lista de discussão, fórum, chat, provas, videoconferência e outras.


                                       SOBRE A AUTORA

Maryluze Souza Santos Siqueira é graduada em Pedagogia, Pós-Graduada em Gestão Administrativa da Educação e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe. Contato: maryluze@ig.com.br  TELEFONE: 99854914


REFERÊNCIAS

BEILER, Adriana; LAGE, Louise Costa: MEDEIROS, Marilu Fontoura de. Educação a Distância: novos desafios na virtualidade dos horizontes educacionais. In: Educação a Distância: cartografias pulsantes em movimento. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.

BERGER, Miguel. Avaliação Educacional. Aracaju: UNIT, 2011.
HAYDT, Regina Cazaux. Avaliação do Processo Ensino-Aprendizagem. São Paulo: Ática, 2008.
 LDBEN. Lei 9394/96. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1996.
 LIBÂNEO, José Carlos. A Avaliação Escolar. In: Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
 LIMA, A. Avaliação Escolar: julgamento X construção. Petrópolis: Vozes, 1994.
 LUCKESI, Carlos Cipriano. Avaliação da Aprendizagem Escolar. 18 ed. São Paulo: Cortez, 2006.
OLIVEIRA, Elsa Guimarães. Uma Rede Teórico-Metodológica dos Novos Tempos, Espaços e Paradigmas. Educação a Distância na Transição Paradigmática. Campinas/SP: Papirus, 2003. (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).

SANTOS, João Francisco Severo. Avaliação no Ensino a Distância. Revista Iberoamericana de Educacion. s. d.
SANTOS, Edméa; LIMA, Gilson. Avaliação da Aprendizagem na educação online: experiências compartilhadas. In: Reflexões sobre Educação Online. SILVA, Patrícia (Org). Salvador: UFBA, 2008. ps. 75-97.
UNIT. Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em História – Educação a Distância. Aracaju: Unit, 2010.

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